O meu irmão fazia hoje 50 anos

Parabéns, é uma menina. Olharam para ela, franzina e pensaram, mais uma que se vai embora. Esta menina, nasceu um ano depois do primeiro filho do casal ter falecido. Era um menino lindo, gorducho, um encanto de bebé. A menina era completamente o oposto do irmão, e claro foi logo sentenciada a ter o mesmo destino. Era impossível este grãozinho de arroz sobreviver.

Reza a historia que uma prima que vivia na casa em frente, mal a viu perguntou: - Quando é que vou ao anjinho desta menina? Para quem esta expressão não é familiar, ir ao anjinho de alguém, era ir ao funeral de uma criança. Era uma festa para a pequenada quando havia um anjinho, porque havia sempre bolachas e rebuçados à descrição, e vestia-se fatiota domingueira.

Essa menina franzina, que ninguém dava nada por ela, sou eu. E é verdade eu tive um irmão. Faz hoje precisamente 50 anos que ele nasceu, mas só viveu 3 meses, e como é lógico não o conheci. Nada na vida acontece por acaso, e o meu irmão morreu para que eu viesse ao mundo, pois se ele tivesse sobrevivido eu não existiria. Digo isto de fonte segura, pois os meus pais só queriam um filho, e a verdade é que sou filha única. Chamava-se Jorge e sem razão aparente faleceu, com apenas 3 meses de vida.